Quando assisti ao trailler do filme As Aventuras de Pi, fiquei muito
surpresa de sua classificação indicativa ser tão baixa (10 anos). A
priori, trata-se de um filme infantil, mas engana-se quem acha que irá
assistir a mais um clássico de Walt Disney. Dirigido magistralmente por
Ang Lee, Life of Pi (em seu título original) é um filme profundo, que
trata de questões humanas seculares,
como fé e perseverança. Através da cultura indiana, o roteiro se
desenrola de maneira leve, unido à força imagética e aos efeitos
especiais muitíssimo bem feitos (assisti a versão em 3D), o roteiro não
se perde entre a voz do narrador e os personagens principais, Pi e um
Tigre de Bengala adulto, Richard Parker.
Com pitadas de humor bem
dosadas, As Aventuras de Pi, fazem o espectador viajar com ele através
de sua imaginação (?) fértil, mergulhar profundamente no Oceano
Pacífico, e tornar-se náufrago junto com Richard Parker e Pi.
A
minha sensação (reforçada pelos óculos 3D) de estar me afogando, o temor
de ver tubarões brancos e baleias cachalotes, e o fascínio na beleza
das água-vivas elétricas fazem do filme um verdadeiro deleite imagético.
Abordando de maneira leve questões tão complexas como Deus, destino e
karma, As Aventuras de Pi é um filme que eu recomendaria para toda a
família, de qualquer idade ou credo, pois em pouco mais de 2 horas
(passadas quase desapercebidamente), Pi e seu Tigre de Bengala emocionam
e nos tiram lágrimas sem cair no dramalhão forçado de uma tragédia
vivida por seus personagens (mesmo porque trata-se de uma película
infantil).
Em meio a realidade cotidiana, deixar-se sonhar e
inundar-se pela imaginação (ou não) do jovem Piscine, o Pi, é trazer de
volta um pouco mais da leveza e esperança à vida excessivamente
realista.
Depois
de minha tentativa frustrada de assistir à Os Intocáveis, o que me
restou foi Polissía. E que grata surpresa! Polissía é um filme que move.
E cala.
Através dos depoimentos e histórias de seus
personagens, somos convidados a acompanhar a rotina dos policias da
Brigada de proteção ao Menor de Paris, no Departamento de Abusos
Sexuais. Sempre que um filme traz essa temática de violência contra
a mulher e à criança me causa enorme desconforto, talvez por isso na
primeira meia hora de filme eu tenha ficado com a respiração presa. O
assunto é tenso, mas o diretor Maïwenn soube dar uma leveza (?)
impressionante a questões tão delicadas como pedofilia, prostituição e
violência infanto-juvenil.
O filme também é uma crítica sobre a
visão desumana que se faz dos policiais, que também amam, odeiam - e às
vezes -envolvem-se demais em cada caso. Também aborda de maneira crua, o
sexismo dentro da coorporação e a dificuldade que as policiais
femininas têm, inclusive de interrogar homens acusados de abusar
sexualmente de suas filhas e esposas.
Uma das frases mais
fortes do longa, foi do personagem Fred, quando confessa que eles tentam
resolver todos os casos, mas nem sempre dá. Isso traz a dimensão do
quão complexo são os crimes contra a criança, pois a não-resolução de um
caso, pode implicar na morte daquele menor.
Atuações
vigorosas, por vezes enérgicas, Polissía consegue emocionar sem cair na
pieguice. Tanto, que uma das cenas mais chocantes é a separação de um
menor de sua mãe, que alega aos policiais não ter condiçõe de criá-lo. O
grito daquela criança parecia conter uma dor que vinha da alma. Difícil
de sustentar-se na cadeira vendo o desespero daquela separação. Tanto
que minha colega sentada ao meu lado retirou-se da sala de projeção.
A atuação daquele pequeno ator foi tão convincente que por vezes me fez duvidar se ele estava de fato apenas atuando. Doloroso.
Mas Polissía não é um dramalhão, também rende cenas engraçadas que perpassam por uma espontaneidade tranquilizadora.
Polissía trata da violência contra a criança e o adolescente de uma maneira humana, convidando-nos a relfetir.
Será possível ser apenas policial e ver cada pequena vida daquelas
sendo roubada, estrupada e violentada sem envolver-se ou tocar-se
profundamente?
Eu cheguei à conclusão de que não. Todo e qualquer
trabalho que exista o fator humano envolvido, sempre permeará pelo campo
emocional, mesmo quando o trabalho não permite atravessar essa linha
tênue do profissionalxpessoal.
Na verdade Paraísos Artificias é uma história triste. Engana-se quem acha que vai ver curtição, alegria e sorrisos.
Paraísos Artificiais mostra o lado eufórico da droga, o lado libidinoso
da droga, o lado da bad trip e o lado da VIAGEM. Muito bem feitos, por
sinal. Ponto alto pra cena de oversode.Ponto alto para as cenas de sexo,
que aliás, são muitas! Me surpreendi com a interpretação de Natalia
Dill, que saiu um pouco dessa aurea que a circunda de "menininha rica
do Leblon" interpretando muito bem uma dj "mutco loka e bissexual".
Convence.
Uma das frases mais marcantes foi justamente de um velho
rato de rave que disse à Érika, personagem da Natália Dill que "as
drogas são incapazes de criar uma realidade alheia à você, elas
simplesmente, potencializam o que já existe. As pessoas tiram das drogas
o que elas querem, a grande questão é: será que elas querem o que é
melhor pra elas?". Pra mim esta frase valeu o filme inteiro. Sem
apologias a nada, acho que o filme retratou bem o universo das raves -
eu nunca fui em nenhuma dessas que duram dias, quem foi pode falar
melhor por mim - mas do pouco que eu conheço, é bem aquilo ali.
Infelizmente a trama caminha para um clichê disfarçado de "as drogas são
ruins" e por isso perdeu um pouco do ineditismo na abordagem do tema.
Os cortes temporais são meio confusos, o que dificulta um pouco
acompanhar a sequência linear dos fatos, mas talvez não precise, pois
como uma boa viagem psicodélica, nada faz muito sentido mesmo, e o que
estava atrás pode vir pra frente e o que estava na frente pode nem mesmo
existir...