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sábado, 19 de janeiro de 2013

Um oceano de belezas



Quando assisti ao trailler do filme As Aventuras de Pi, fiquei muito surpresa de sua classificação indicativa ser tão baixa (10 anos). A priori, trata-se de um filme infantil, mas engana-se quem acha que irá assistir a mais um clássico de Walt Disney. Dirigido magistralmente por Ang Lee, Life of Pi (em seu título original) é um filme profundo, que trata de questões humanas seculares, como fé e perseverança. Através da cultura indiana, o roteiro se desenrola de maneira leve, unido à força imagética e aos efeitos especiais muitíssimo bem feitos (assisti a versão em 3D), o roteiro não se perde entre a voz do narrador e os personagens principais, Pi e um Tigre de Bengala adulto, Richard Parker.
Com pitadas de humor bem dosadas, As Aventuras de Pi, fazem o espectador viajar com ele através de sua imaginação (?) fértil, mergulhar profundamente no Oceano Pacífico, e tornar-se náufrago junto com Richard Parker e Pi.
A minha sensação (reforçada pelos óculos 3D) de estar me afogando, o temor de ver tubarões brancos e baleias cachalotes, e o fascínio na beleza das água-vivas elétricas fazem do filme um verdadeiro deleite imagético.
Abordando de maneira leve questões tão complexas como Deus, destino e karma, As Aventuras de Pi é um filme que eu recomendaria para toda a família, de qualquer idade ou credo, pois em pouco mais de 2 horas (passadas quase desapercebidamente), Pi e seu Tigre de Bengala emocionam e nos tiram lágrimas sem cair no dramalhão forçado de uma tragédia vivida por seus personagens (mesmo porque trata-se de uma película infantil).
Em meio a realidade cotidiana, deixar-se sonhar e inundar-se pela imaginação (ou não) do jovem Piscine, o Pi, é trazer de volta um pouco mais da leveza e esperança à vida excessivamente realista.

Polisia



Depois de minha tentativa frustrada de assistir à Os Intocáveis, o que me restou foi Polissía. E que grata surpresa! Polissía é um filme que move. E cala.

Através dos depoimentos e histórias de seus personagens, somos convidados a acompanhar a rotina dos policias da Brigada de proteção ao Menor de Paris, no Departamento de Abusos Sexuais. Sempre que um filme traz essa temática de violência contra a mulher e à criança me causa enorme desconforto, talvez por isso na primeira meia hora de filme eu tenha ficado com a respiração presa. O assunto é tenso, mas o diretor Maïwenn soube dar uma leveza (?) impressionante a questões tão delicadas como pedofilia, prostituição e violência infanto-juvenil.

O filme também é uma crítica sobre a visão desumana que se faz dos policiais, que também amam, odeiam - e às vezes -envolvem-se demais em cada caso. Também aborda de maneira crua, o sexismo dentro da coorporação e a dificuldade que as policiais femininas têm, inclusive de interrogar homens acusados de abusar sexualmente de suas filhas e esposas.

Uma das frases mais fortes do longa, foi do personagem Fred, quando confessa que eles tentam resolver todos os casos, mas nem sempre dá. Isso traz a dimensão do quão complexo são os crimes contra a criança, pois a não-resolução de um caso, pode implicar na morte daquele menor.

Atuações vigorosas, por vezes enérgicas, Polissía consegue emocionar sem cair na pieguice. Tanto, que uma das cenas mais chocantes é a separação de um menor de sua mãe, que alega aos policiais não ter condiçõe de criá-lo. O grito daquela criança parecia conter uma dor que vinha da alma. Difícil de sustentar-se na cadeira vendo o desespero daquela separação. Tanto que minha colega sentada ao meu lado retirou-se da sala de projeção.

A atuação daquele pequeno ator foi tão convincente que por vezes me fez duvidar se ele estava de fato apenas atuando. Doloroso.
Mas Polissía não é um dramalhão, também rende cenas engraçadas que perpassam por uma espontaneidade tranquilizadora.

Polissía trata da violência contra a criança e o adolescente de uma maneira humana, convidando-nos a relfetir.
Será possível ser apenas policial e ver cada pequena vida daquelas sendo roubada, estrupada e violentada sem envolver-se ou tocar-se profundamente?
Eu cheguei à conclusão de que não. Todo e qualquer trabalho que exista o fator humano envolvido, sempre permeará pelo campo emocional, mesmo quando o trabalho não permite atravessar essa linha tênue do profissionalxpessoal.

Paraíso ?



Na verdade Paraísos Artificias é uma história triste. Engana-se quem acha que vai ver curtição, alegria e sorrisos.
Paraísos Artificiais mostra o lado eufórico da droga, o lado libidinoso da droga, o lado da bad trip e o lado da VIAGEM. Muito bem feitos, por sinal. Ponto alto pra cena de oversode.Ponto alto para as cenas de sexo, que aliás, são muitas! Me surpreendi com a interpretação de Natalia Dill, que saiu um pouco dessa aurea que a circunda de "menininha rica do Leblon" interpretando muito bem uma dj "mutco loka e bissexual". Convence.
Uma das frases mais marcantes foi justamente de um velho rato de rave que disse à Érika, personagem da Natália Dill que "as drogas são incapazes de criar uma realidade alheia à você, elas simplesmente, potencializam o que já existe. As pessoas tiram das drogas o que elas querem, a grande questão é: será que elas querem o que é melhor pra elas?". Pra mim esta frase valeu o filme inteiro. Sem apologias a nada, acho que o filme retratou bem o universo das raves - eu nunca fui em nenhuma dessas que duram dias, quem foi pode falar melhor por mim - mas do pouco que eu conheço, é bem aquilo ali. Infelizmente a trama caminha para um clichê disfarçado de "as drogas são ruins" e por isso perdeu um pouco do ineditismo na abordagem do tema. Os cortes temporais são meio confusos, o que dificulta um pouco acompanhar a sequência linear dos fatos, mas talvez não precise, pois como uma boa viagem psicodélica, nada faz muito sentido mesmo, e o que estava atrás pode vir pra frente e o que estava na frente pode nem mesmo existir...