“ Com fome ninguém tem motivação para estudar ou ler”
Por: Taísa Silveira
O brasileiro médio lê pouco. Lê muito pouco, e isso é também um reflexo direto da educação do nosso país. Segundo o IBGE, com dados do ano de 2002 e 2003, o brasileiro lê apenas cerca de 1 livro não didático ao ano, uma das piores médias mundiais em níveis de leitura. A pesquisa revelou também que a quantidade de leitores assíduos está diretamente ligada à classe social dessas pessoas: quanto mais alta, mais livros lêem. Nos últimos 30 anos mais pessoas ascenderam à classe média no país o que significou um salto de 1,8 livros lidos por ano, para 4,7 livros ( incluindo os livros indicados pela escola). Segundo Galeno Amorim diretor do Centro de estudos Observatório do Livro e da Leitura, “ quando a pessoa deixa de estudar, ela passa a ler menos da metade do que lia”.
Mas esta é uma realidade que podemos comprovar também nas pequenas regiões do Brasil, especialmente nos estados que possuem menos investimentos na educação, como é o caso da região Nordeste.
Raquel Pinto, é estudante universitária do curso de História, e já tem algumas experiências com o ensino público de nosso país “ eu dei aula na 4ª unidade para alunos de oitava série, que em termos gerais não conseguiam entender a funcionalidade do estudo da História na vida deles. Percebi nas aulas que eles não tinham uma carga boa de leitura, essa leitura não foi dada nem na escola nem em casa, os únicos livros que eles têm acesso é o livro didático e a bíblia em casa”afirmou. As dificuldades para estudar em regiões como Cachoeira e São Félix ( as cidades em que Raquel lecionou), vão além da falta de acesso à livros “a maioria de meus alunos vêm da zona rural, muitos deles só vão para a escola por causa da merenda , para muitos é a única refeição do dia. Com fome ninguém tem motivação para estudar ou ler”.
Os problemas do nosso ensino público estão também na formatação destas turmas, que são desniveladas. Em sua grande maioria, crianças assistem aulas com adultos e as aulas terminam por não proporcionar o ensino pleno para nenhuma das faixas etárias. É o que se chama de ensino seriado, quando numa mesma classe mistura-se inúmeras faixas etárias e as séries são “atropeladas”, ou seja, numa mesma classe o aluno aprende matérias da 1ª à 4ª séries sem o menor planejamento pedagógico, comprometendo imensamente o aprendizado dos alunos.
Segundo Raquel, esse também é um grande problema da rede pública “ eu dei aula a 15 alunos de faixa etária que variava dos 13 aos 23 anos, e um dos alunos me disse que ele já tinha 24 anos e estava na quita série e eu apenas um ano mais velha já era professora dele. O que pude perceber é que eles ficam desmotivados, pois os alunos mas velhos que estão locados em séries de faixas etárias diferentes das suas são pessoas que deixaram de estudar a muito tempo, e estão retomando os estudos, ou são repetentes”.
Uma crítica passível também é o método tradicionalista que ainda perdura nas escolas, o que dificulta a compreensão de muitos desses alunos sobre as questões que são passadas pelo professor “ infelizmente, o método tradicionalista ainda impera na maioria das escolas brasileiras, mas acredito que o método regionalista é mais próximo da realidade deles, pois ressalta coisas que são próximas do que eles vivem” ressalta Raquel.
Com tamanhas dificuldades o número de evasão escolar continua alto, de uma sala onde 40 alunos foram matriculados e apenas 15 comparecem regularmente às aulas,torna-se difícil transformar a escola num ambiente atrativo, mas a universitária diz que falta também um pouco mais de vontade de realizar coisas diferentes “ como eu estava como professora substituta, eu não poderia mudar o programa pedagógico da escola, mas eu procurei adequar os conteúdos dentro das possibilidades que eu tinha. Tem que ser um trabalho conjunto, da escola dos professores e dos alunos para mudar essa realidade; quando tive oportunidade eu levei filmes, musicas e outros recursos didáticos para a sala de aula e a resposta foi muito boa, foram uma das melhores aulas que eu dei. Os alunos precisam sentir-se confiantes para falar e expressarem o que eles pensam. Muitos deles nem levavam o livro didático para a escola por que ele não era usado, quando eu comecei a utilizar, eles voltaram a levar e a resposta foi positiva.”
As escolas públicas receberam uma verba significativa do Governo Federal para se equiparem melhor a fim de atender as demandas estudantis, o problema é que esses recursos pouco são utilizados e infelizmente a biblioteca e seus livros é um deles. Em inúmeras escolas, retro-projetores, aparelhos de DVD’s e a própria biblioteca ainda têm acesso restrito ou quase nulo. O que precisa ser modificada é a forma como esses alunos têm acessos à esses recursos para que o aprendizado torne-se uma coisa prazerosa e que os livros não sejam vistos com tão pouca importância.