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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pérola Negra do Recôncavo




MODA

Pérola Negra

Cachoeira, cidade histórica do Recôncavo Baiano, tem uma população de maioria afro-descendente. Segundo o site de pesquisa Wikipédia, a tal já foi conhecida como ‘Meca da Bahia’, pela grande influência malê sobre a cidade.A região é bastante conhecida pela sua cultura afro-religiosa, abrigando inúmeros terreiros de candomblé. Mas essa não é a única herança deixada pelos negros. A moda afro está nos penteados, acessórios e vestimentas de muitos moradores.Pelas ruas da cidade é possível constatar facilmente essa influência. Mulheres usando tranças é uma típica imagem que compõe o cenário da região. Não só as mulheres continuam seguindo essa tendência, os homens também trançam seus cabelos, fazem black powers ou dreads. Além disso, as contas de orixás colorem a cidade, seja nos braços ou pescoço de algum cachoeirano. As contas podem ser encontradas no comércio da mesma sem muito esforço, é o caso da Miscelânea Iemanjá. Em entrevista com a neta da dona, Idália Souza dos Santos, 19 anos, ela disse que todo tipo de pessoas vai ao estabelecimento, desde turistas a curiosos. O lucro é relativo, a depender da época do ano, e as vendas ajudam no orçamento.

Fonte de renda e Cultura

A moda afro é, contudo, uma fonte de renda para a população. Jacyara Santos Silvério Ferreira, 20 anos, é uma das mulheres da região que se beneficiam. Ela trança cabelos desde os 14 anos e disse que muitas pessoas procuram pelos seus serviços, o qual é sua única fonte de renda.Apesar dos cabelos trançados representarem muito bem a cultura afro na Bahia, e especialmente na cidade de Cachoeira, há também quem não goste muito de usar esse tipo de penteado, e prefere os alisamentos, escovas e pranchinhas.È o caso da estudante Cryhna Pereira de 18 anos, que diz alisar o cabelo por ser mais conveniente: “Acho que meu cabelo fica melhor liso, até por que quando faço tranças minha testa fica cheia de espinhas, já fiz tranças, mas prefiro dar escova. Por isso desde o ano passado eu dou alisante regularmente.A questão da identidade com os cabelos trançados, também retoma a discussão do resgate e da valorização da auto-estima do negro, como afirmou Alan Félix, 21 anos estudante de História da UFRB: “Eu gosto do cabelo trançado, não só do ponto vista da estética da beleza mas é um ponto de afirmação de sua negritude, chama mais minha atenção o cabelo trançado por causa disso.Não tenho discriminação nem preconceito, com quem alisa, mas não me cativa.Acredito que ao alisar os cabelos crespos é uma forma de você buscar se enquadrar num padrão de beleza instituída pela sociedade. É uma beleza midiática. E você acaba esquecendo sua origem, e se apagando enquanto indivíduo e entrando num padrão geral.As tranças tem o caráter da afirmação da identidade, a mídia também esta se apoderando disso, com a “beleza negra”, e eu acho que desta forma está se perdendo esse caráter de identidade. Trançar deixar o cabelo black, era uma forma de contrapor essa sociedade e se auto afirmar enquanto negro, e dizer: eu sou negro e me aceito como eu sou.”Essa opinião também é compartilhada por Adriana da Silva 14 anos, estudante do Colégio Estadual da Cachoeira: “Tranço meus cabelos desde pequena, meu cabelo é muito cheio, eu tranço pra arrumar, isso faz o cabelo crescer também. Apesar de alisar desde ano passado, me sinto muito mais representada como negra quando uso minhas tranças. Acho bonito e diferente, você pode colocar tranças vermelhas, de cores diferentes, acho que combina mais com a raça.”Trançando ou alisando, é um fato que a moda é muito influenciada pela cultura afro, e podemos perceber isso a cada novo penteado, a cada trançado colorido, a cada inovação nos cabelos das mulheres negras.

Moda e Religião

Há aqueles também que seguem o estilo afro sem ligações diretas a moda. A Irmandade da Boa Morte e o Terreiro do Caboclo Guarany de Oxóssi são exemplos disso. A indumentária originada dos africanos é utilizada no dia a dia e em festas. As negras da Boa Morte têm um vestuário para cada dia de festa da Irmandade, que acontece todos os anos, do dia 13 a 15 de agosto. Segundo Nilza Matias da Paixão, conhecida por Nini, no primeiro dia, as irmãs saem em procissão vestidas de branco, simbolizando luto pelo anúncio da morte de Maria. Nesse dia, elas também usam contas de orixás. No segundo dia elas vestem a beca ao contrário e carregam lenços em suas cabeças com outro lenço por cima chamado de bioco. O bioco é uma homenagem aos negros mulçumanos. No dia 15, último dia, elas celebram Maria usando a beca e uma farda, adicionada de jóias e bijuterias, com o intuito de “relembrar quando elas eram consideradas negras Partido Alto”, disse Valmir Pereira, administrador do Memorial da Irmandade da Boa Morte. Esses trajes são somente para ‘pessoal de santo’, pessoas ligadas ao candomblé.Não é apenas na Irmandade que esse tipo de indumentária é usado. Em terreiros, a saia rodada de cor branca é uma veste comum. Márcia Maria de Lopes, mãe pequena do Terreiro do Caboclo Guarany de Oxóssi, disse que há dois tipos de roupa: a de ração e a de festa. Roupa de ração é aquela usada no dia a dia e, também, durante a iniciação. Ela é composta por uma saia branca, camisu (camisa de mangas curtas, retas ou fofas, com decote oval arrematado por renda, usada em geral pelas filhas-de-santo), pano de cabeça e, posteriormente à iniciação (após sete anos), pode complementar o traje com uma bata. Em dias festivos, elas usam saias rodadas, jóias e contas, cada qual com as contas de seu orixá. O pano na cabeça é uma peça em comum nos dois tipos de vestes.




Por: Taísa Silveira e Caroline Oliveira