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domingo, 3 de agosto de 2008

A programação de domingo não muda

A programação de domingo não muda
Assistencialismo-show continua nos programas dominicais


Eu fico chocada como tudo vira show bussiness. Hoje mesmo eu estava em minha casa, em frente à TV, quando eu me deparo com um programa novo da Rede Band: “Quem Pode Mais”. De primeira eu me espantei por perceber que o talk-show era apresentado pela ex-celebridade-baixarias-em-praias-espanholas Daniella Cicarelli. Ela, estava lá, apresentando seu programinha para jovens, o que me lembrou que ela era a menina-de-ouro da MTV. Isso também me fez ponderar que tudo é prazo de validade, e que enquanto eu estiver na mídia, não importa a emissora “baby”.
Eis que me chamou atenção por que o programa é daqueles do tipo de perguntas de conhecimentos gerais em que 2 equipes se enfrentam num “embate cultural” – perdoe-me Miguez pela referência à cultura, eu sei que existem 400 definições pra ela. Mas logo vi que minha esperança era totalmente descabida e fui totalmente frustrada. Entre as perguntas chaves, estavam lá: qual foi a seleção que ganhou a copa de 70? Itália, Brasil ou França? E por incrível que pareça, as menininhas erraram! “Itália” foi a resposta! E eu que esperava ouvir algo do tipo “qual a conferÊncia internacional que promoveu o acordo entre os países mais emissores de CFC para a diminuição destes elementos tóxicos na atmosfera?” Mera ingenuidade minha. Ah! Mas um programa que eu achei que vinha com uma proposta diferente! De levantar questões primordiais e fundamentais para a discussão na sociedade, ainda mais sendo os participantes, todos pré-vestibulandos. Mas não.
Resolvi dar mais um crédito ao programa e insisti em não trocar de canal. A próxima pergunta me arrebatou de tal maneira que eu não poderia fazer mais nada senão desligar a TV, mas o que se sucedeu foi demais! Eu não poderia deixar de vir aqui escrever acerca de minha indignação. Fora a pergunta referente aos “anos 90” ( qual o nome do programa que continha os seguintes personagens Baby, Charlene e Bob, sim essas elas acertaram), o que se seguiu foi o retrato da classe alta hipócrita brasileira. O nome da “prova”era, “Fazendo o Bem”. A “prova” consistia nos cursinhos e seus representantes ajudarem alguém “ que realmente precisa”. As aspas não são uma ironia pela necessidade do ajudado, e sim pela intenção filantrópica do programa.
A assistenciada da vez, foi uma garota com paralisia cerebral. As meninas, todas visivelmente de classe alta, abastadas estudantes de um conhecido cursinho paulista, saíam histéricas pela rua atrás de “patrocinadores do bem”, para que arrumassem a vida da menina. Ligando para empresas fornecedoras de materiais de construção, lojas de pisos, e artigos para banheiro, a trupe de patricinhas “bem intencionadas” angariava artefatos para ajudar a “arrumar” a vida da menina. Ao final, elas voltariam ao palco com Cicarelli, com a possível solução dos problemas da garota. Confesso que não assisti o quadro até o final, por que estava me dando náuseas, mas acredito ter sido um erro, pois ter visto o “do well show” até o final me daria mais respaldo para terminar de contemplar tanta hipocrisia.
A prova acho que valia uns 20 pontos. Mias uma vez a televisão brasileira se utiliza do drama de brasileiros pobres, sem assistência, e dependentes para angariar pontinhos no IPOBE do tão disputado domingo à tarde.
Era de dar raiva como aquele programinha ridículo era feito para menininhas ovais – com ovo na cabeça, sem o mínimo de consciência social, ou do que representa ter um membro de sua família com paralisia cerebral. Quão horror transformar essa história de vida em uma prova leviana de um talk-show dominical, que fariam elas ganharem, o que? Conhecimento? Acho que não? Consciência social? Tão pouco! Fama? Talvez.E talvez com a proposta de trazer um programa diferente pros tão assolados de esterco cultural, domingões, que a BAND escorrega e cai no velho clichê de assistencialismo-show, mais um programa de vitrines para as lojas apresentarem seus produtos – como o Wet’ Wild, ou reafirmarem suas marcas na cabeça de mais e mais brasileiros que serão o futuro do Brasil. Esses serão nossos próximos advogados, médicos,psicólogos conscientes dos problemas sociais do Brasil, mais preocupados, enfim mais humanos. Acho que estão precisando assistir alguns dos filmes de Sérgio Bianchi, "Cronicamente Inviável" e "Quanto vale ou é por quilo?" E viva à programaçãodo domingo à tarde.