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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Abalo no Império Verde

Política



Abalo no império verde
Prefeito de Cachoeira enfrenta problemas para concorrer à reeleição

Taísa Silveira, Alanna Oliveira e Sandrine Souza


Supermercado Pereira, Supermercado Isamar, Mini Pereira, Delicatessen Zero Hora, Vieira Loja de Conveniências, Cachoeira Apart Hotel, Paradela Material de Construção e Dom Pedro Material de Construção e alguns postos de gasolina em Cachoeira e cidades vizinhas. O que todas essas empresas teriam em comum? Todas pertenceriam à família Pereira, da qual faz parte o prefeito de Cachoeira, Fernando Antônio Pereira da Silva, o Tato. A família construiu o seu pequeno império adornado de verde em pouco mais de duas décadas no eixo Cachoeira - São Félix. Nada mal para uma família de origem humilde. O ferroviário Antônio Astério Pereira Sobrinho e a dona-de-casa Maria Raimunda da Silva Pereira criaram os quatro filhos numa casa simples. O pai de Tato sustentava a família com a venda de botijão de gás e gordura vegetal num pequeno comércio. Mas todo esse poder econômico e político sofreu um duro golpe no mês de junho. Candidato à reeleição, Tato enfrenta problemas com o seu partido, o PMDB.
Tato foi eleito prefeito pelo Partido de Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), o que ajudou a sustentar a hegemonia do grupo Pereira, segundo Luís Cláudio Dias Nascimento, historiador e morador da cidade. “Alimentos, material de construção, combustível e outros artigos são comprados pela prefeitura nas mãos da família Pereira, uma prática favoritista com a qual a família só tem a ganhar”, analisa Luís Cláudio. Porém, a reportagem do Reverso, ao consultar o site do Tribunal de Contas do Município, não encontrou compras da prefeitura nas empresas que são comprovadamente da família Pereira. Curiosamente, na convenção que homologou a candidatura de Tato à reeleição, no dia 11 de junho, Fábio Souto, deputado federal pelo DEM, declarou: “Toda vez que eu venho à Cachoeira, Tato, eu vejo um comércio novo e uma padaria. A cidade toda se reestruturando e isso se reflete na administração que está sendo realizada no município de Cachoeira (...)”. As casas comerciais a que ele se referia são notoriamente da família Pereira, tal como Vieira Loja de Conveniências, o recente supermercado inaugurado na cidade, na rua Lauro de Freitas.
O dono oficial da maioria dos empreendimentos Pereira, Edson Pereira, irmão de Tato, foi procurado para falar sobre seu oligopólio comercial na cidade e não foi encontrado.
Após dar a seguinte declaração, também na convenção do dia 11, Tato sofreu uma sanção do seu atual partido, que retirou o apoio à sua candidatura, sob acusação de infidelidade partidária. O prefeito disse: “Jamais essa administração deixou à parte o DEM, mas hoje estamos colocando aqui, o que ela vai continuar, a parceria tanto política como administrativa (...) nós fizemos uma opção de ir pro PMDB mas não fizemos acordo com o PMDB, nós fomos pra lá, nós não dissemos que iríamos apoiar um deputado do PMDB, nós não fomos pra lá dizendo que iríamos apoiar o governador do PMDB. Tá certo? Nós fomos pro PMDB convidados pelo PMDB. E hoje tenha certeza, Fábio (Fábio Souto), que nós temos três anos e cinco meses de governo. Nunca trouxe um deputado federal pra essa cidade, porque nosso deputado continua sendo você...”.
O PMDB divulgou, em seu site, a declaração dada pelo prefeito, como justificativa para o seu desligamento. Perguntado sobre o assunto, Tato declarou: “Sim, eu sofri um golpe da oposição. Cambada de ladrão safado”, bradou Tato, em rápida entrevista ao Reverso. O prefeito acusa diretamente os candidatos à prefeitura, Teobaldo Miranda, do PT, e o ex-prefeito Raimundo Leite, do PR, de terem armado um complô contra a sua candidatura. “Ele não sofreu golpe nenhum de ninguém. Eu acho que ele não pode ser vítima nesse processo, ele é o culpado. Ninguém articulou esse acontecimento, foi provocado só por ele. Ele é o réu, foi infiel com o partido. Agora, alguém botou palavras na boca dele? Não tenho participação nenhuma no envio das fitas. Não tenho contato nenhum com Lucio Vieira Lima”, declarou Teobaldo Miranda.

A mesma versão foi dada pelo ex-prefeito Raimundo Leite. “Não teve golpe nenhum. Se tem alguma pessoa errada, essa pessoa é o Tato. Isso foi uma decisão do diretório regional da Bahia, através do seu presidente Lucio Vieira Lima. Eu não tenho nada a ver com isso, nem o Teobaldo Miranda”, declarou Leite.
O presidente estadual do PMDB, Lúcio Vieira, declarou, no site do partido, que “o PMDB não está preocupado com quantidade de prefeitos, mas sim com a qualidade dos mesmos”. Tentando justificar suas declarações, Tato disse ao Reverso: “Não posso dizer que apóio nenhum deputado de meu partido porque, em 2010, eu serei candidato a deputado. Não faz sentido eu dizer que apoio deputado nenhum”.
A determinação do PMDB levou os cachoeiranos às ruas num movimento queremista em prol do prefeito. O presidente da associação da Terra Vermelha, Admilson Bonfim Mota de Jesus, diz que Tato foi vítima de um golpe e que é uma injustiça o que estão fazendo com ele. Um morador da cidade, que preferiu não se identificar, afirma que aquelas pessoas que gritavam “queremos Tato”, durante os festejos do 25 de junho, foram pagas para fazê-lo. Luís Cláudio Nascimento afirma que a família vence devido à força econômica que possui no município. “Eles compram a dignidade das pessoas devido ao controle da maioria dos empregos da cidade”, denuncia.
Para garantir a sua candidatura, o prefeito de Cachoeira entrou com uma liminar na Justiça da cidade, que foi concedida pelo juiz eleitoral substituto, Alex Fabiane Arantes. O PMDB já entrou com um recurso no Tribunal de Justiça e promete usar de todos os instrumentos legais para impedir a candidatura de Tato.

“O Dinheiro do povo não é Capim”

Sociedade


“O Dinheiro do povo não é Capim”

Os estudantes da UFRB manifestam no dia 25 sua indignação com a situação da universidade



“O dinheiro do meu pai não é capim, eu quero o Leite Alves, sim. Eu quero, eu quero, eu quero o Leite Alves sim. O dinheiro do povo não é capim, eu quero o Leite Alves sim”; cantavam em coro os estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na histórica Praça da Aclamação de Cachoeira no dia 25 de Junho. No mesmo local há 186 anos os cachoeiranos lutavam pela Independência da Bahia.
Aproveitando a presença do governador, Jaques Wagner, e de outras autoridades na cidade - capital simbólica do estado neste dia -, os estudantes da UFRB se organizaram para reivindicar o término das obras do Quarteirão Leite Alves, futuro campus da universidade, e melhoria na assistência estudantil. A idéia da manifestação surgiu a partir dos diretórios acadêmicos dos cursos do CAHL- Centro de Artes Humanidades e Letras,que levaram para discussão em assembléia geral o modelo da manifestação.
Vestidos de preto e com narizes de palhaço, os estudantes seguravam faixas com frases como “ Universidade Pública e de qualidade já!”, “Movimento dos estudantes sem-teto”, “3 anos de espera!” entre outras.
Os estudantes estão a dois anos em locação provisória em um prédio anexo do Colégio Estadual da Cachoeira. A cada dia o governo federal dá um novo prazo e justificativa para o atraso das obras.
“Eu esperava encontrar tudo, mas não encontrei nada. Idealizei uma universidade cheirando a tinta, com cadeiras novas, laboratórios...Cheguei aqui e encontrei este prédio horrível. Deu vontade de voltar para casa. Eu me sinto meio deslocado, porque ,na verdade, este espaço não é nosso. A cada dia eles adiam mais o prazo. É desmotivante, é a terceira, quarta, quinta vez que eles mudam o prazo. Não dá mais para acreditar. Já era para as obras estarem conclusas, é um direito de nós estudantes termos condições dignas para desenvolver nossas atividades. As pessoas não sabem as condições reais em que se encontram a universidade, só quem sabe é quem está aqui. Dá até vergonha de dizer as condições nas quais estudamos.” Desabafa Maurício Miranda, estudante do terceiro semestre de jornalismo da universidade que participou da manifestação.
Com apitos, os estudantes chamaram a atenção da imprensa e preocuparam a polícia, que para evitar o que eles acreditavam ser uma possível invasão da câmara, fecharam a entrada com oficiais e, só depois de diversas negociações, foi liberada a entrada de uma comissão composta por 3 estudantes e um professor. Este grupo conseguiu uma reunião informal com o reitor Paulo Gabriel Nacif, o vice-reitor Sílvio Soglia, o secretário de Educação Adeum Sauer e o acessor direto do governador Fernando Schmidt que prometeu levar a pauta de reivindicações ao governador Jaques Wagner e se possível ao presidente Luís Inácio Lula da Silva.
O docente Amílcar Baiardi, foi o único docente que participou ativamente da manifestação, segurou faixas, colocou nariz de palhaço e chamou gritos de ordem em favor dos estudantes. Baiardi acredita que a pouca adesão dos professores ao movimento, foi porque a maioria deles está em estágio probatório, têm medo de possíveis retaliações, além de que, os professores têm uma capacidade de mobilização menor. Para ele, o maior saldo da manifestação foi ouvir do chefe de gabinete do governador, que a entrega do prédio até o dia 18 de outubro deste ano, era um compromisso.
O problema se agrava, pois no segundo semestre do ano letivo,entrarão quatro novas turmas que incharão ainda mais o espaço onde os alunos têm aula. Porém, como medida paleativa, o reitor da universidade já garantiu que os alunos serão relocados para o prédio, onde funciona o atual INSS de São Félix. “ O prédio já foi alugado. Em agosto as aulas acontecerão lá, até a conclusão do Leite Alves em outubro”. Mas, enquanto isso não acontece a comunidade acadêmica do CAHL, continuam esperando a sede oficial do campus, e com a grande expectativa que isso realmente ocorra na data limite de 18 de outubro de 2008.