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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maria Felipa, guerreira e rainha


Representação de Maria Felipa

Por: Taísa Silveira
Em tempos modernos a mulher já conquistou posições de destaque na sociedade pós-moderna como a presidências da república, ministérios de expressão internacional ou gerencia de grande corporações, mas nada disso teria sido possível se não fossem as precursoras desse processo emancipatório feminino, como as guerreiras que lutaram das mais diversas formas pela independência, não só de gênero como pelo seu país e pelo mundo.
No mês da Independência da Bahia é simplesmente inevitável e imprescindível lembrar de certos nomes como o de Joana Angélica que defendeu o Convento da Lapa, ou de Maria Quitéria, que lutou bravamente contra o Império Português nas terras brasileiras em favor de nossa liberdade. Porém outras mulheres com tanta coragem, garra e perseverança também devem ser exaltadas como Maria Felipa, negra, marisqueira, descendente de sudaneses, da ilha de Itaparica, que defendeu sua terra bravamente contra coronéis e o exército português em prol da liberdade de seus iguais.
Maria Felipa nasceu na Bahia, na ilha de Itaparica, no século XIX e comandou cerca de 40 mulheres contra a invasão das tropas portuguesas em terras e águas baianas. Sua entrada nas comemorações cívicas do 2 de julho ainda permanecem tímidas, tendo ela sido incorporada ao desfile apenas no ano de 2007, depois de muita luta política dos dirigentes da Casa de Maria Felipa e simpatizantes à causa.
Os ícones negros que fazem parte de nossa história não devem ser relegados ao ostracismo, devem sim ser lembrados, relembrados, exaltados, estudados, e marcarem as páginas dos livros, teses, dissertações e materiais escolares, pois é reconhecendo as pessoas, que se cria a identidade de um povo. Pensando nisso que a diretora e pesquisadora da Casa de Maria Felipa, Hilda Virgens, resolveu resgatar a história desta heroína baiana chamada Maria Felipa de Oliveira em forma de título de homenagem.
“Resolvemos criar este título com o nome de Maria Felipa, porque Zumbi dos Palmares não nos representa em totalidade, pois as mulheres também fizeram parte da história” afirma. Ela diz ainda que o reconhecimento de Maria Felipa dentro da história nacional do país é de suma importância, pois demonstra também a imagem do feminino no processo histórico brasileiro. “Resgatar a história de Maria Felipa é também o empoderamento da mulher, que sai das margens e passa a ser atriz dentro da história, é a nossa luta” diz Hilda.
No ano de 2004 foi criado um corredor cultural no bairro do Curuzu na Liberdade com o objetivo de mostrar a cultura afro-brasileira, e a partir deste projeto, Hilda Virgens criou o título Maria Felipa da Contemporaneidade para homenagear mulheres negras que tenham trabalhos expressivos em sua comunidade. Em sua 5ª edição, o prêmio já homenageou os Griôs do Curuzu – contadores de histórias – a vereadora e vice-candidata à prefeitura de Salvador 2012, Olívia Santana, a vereadora Tia Eron, a prefeita de São Francisco do Conde, Rilza Valentim, Beth Lima do bloco afro Ilê Aiyê, e no ano de 2011, em que foi comemorado ao Ano Internacional do Afrodescendente, foi incluso também um ícone da contemporaneidade americana do entretenimento, a apresentadora de TV, Oprah Winfrey.
Para a dirigente da Casa de Maria Felipa o maior legado dessa itaparicana é reafirmar a importância da mulher negra dentro do processo histórico brasileiro. “Trabalhamos coma resistência, representada pela própria resistência do nosso povo contra a coroa portuguesa e com o processo de transcendência, representada pela fé e pela conquista dos novos espaços sociais pela população afro-descendente” explica Virgens.
Exaltar Maria Felipa é reconhecer na história da Bahia e do Brasil o valor do povo negro que ajudou a construir nossa identidade, é sair do lugar-comum onde o negro ainda tem o ranso de escravismo e devolver não só aos ícones do passado como aos seus descendentes o lugar que lhes cabe. “Falar de Maria Felipa é também a devolução da linhagem real dos negros trazidos para o Brasil” diz Virgens.

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