A Festa D’Ajuda tem mais de 200 anos de existência e ainda causa polemica entre a população de Cachoeira. Desde os anos 70, a festa passou por represálias de autoridades, não só policiais como religiosas, por ser considerada um tanto quanto profana.
Nesse ano, houve certos rumores de que a festa simplesmente não iria sair às ruas com os Embalos por conta de alguns descontentamentos.
A Festa D’Ajuda, no entanto, é o momento em que toda a cidade se confraterniza em torno de uma causa maior e acima dos problemas cotidianos. É quando desde o cidadão mais simples às famílias mais tradicionais unem-se numa grande massa pelas ruas, cantando as cantigas que outrora serviram de enfrentamento político perante as mazelas da população, tão ignoradas pelas grandes autoridades.
A festa pode ser comparada aos antigos bailes à fantasia, exportados da Europa, com a singularidade da sátira, pois os personagens simbólicos representantes da festividade, como as Cabeçorras, relembram a corte portuguesa, e fazem uma alusão jocosa àquela elite falida, mas que se mantinham com uma postura austera e soberba de uma riqueza já etérea.
As Cabeçorras satirizavam as enormes perucas usadas pela corte, para se diferenciarem da população em geral. Mas a idiossincrasia da Festa D’Ajuda permite, hoje em dia, transcender um pouco as críticas políticas e re-significar fatos cotidianos ou que ultrapassam até mesmo o vale em que Cachoeira se ‘esconde’, como no ano em que um grupo da cidade lançou o bloco dos talibãs, numa clara referência aos grupos ‘terroristas’ que derrubaram as torres gêmeas nos Estados Unidos.
Mas, tudo passa, tudo acaba e, assim como na semana em que tudo é permitido, em que todos são iguais, independente de credo, cor e opção sexual, as estruturas sociais voltam ao normal na segunda-feira. Parafraseando Vinicius de Moraes, a Festa D’Ajuda parece a grande ilusão do carnaval/ a gente trabalha o ano inteiro/por um momento de sonho/pra fazer a fantasia/de rei ou de pirata ou jardineira/pra tudo se acabar na terça-feira.
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